segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Cine Theatro Rio Branco, em Aracaju-SE.

Cine Theatro Rio Branco, de Aracaju-SE. 

O Teatro Carlos Gomes foi criado e inaugurado por intermédio do comerciante italiano Nicolau Pungitori. Foi batizado em homenagem ao compositor paulista Antônio Carlos Gomes, representando não apenas a construção de um prédio destinado a espetáculos teatrais, realizados por diversas companhias dramáticas de origem estrangeira e nacional, mas também como local para um seleto grupo de empresas de cinematógrafos que locavam o espaço para a exibição de filmes. A inauguração desse teatro representou um importante avanço para o entretenimento da população de Aracaju, oferecendo um local dedicado às produções cinematográficas.

Em 1909, começou a funcionar regularmente um cinema em Aracaju, com os proprietários Anísio Dantas e João Rocha, instalando assim o “Cinema Sergipe,” que teve cerca de um ano de vida. Ainda no “Carlos Gomes,” funcionou o “Kinema Ideal” de João Firpo e Flávio Quintella. No dia 16 de agosto de 1911, a Companhia Francisco Santos representou mais uma peça de autoria brasileira, “O Guarany,” escrita pelo romancista e dramaturgo brasileiro José de Alencar.

Em 1912, o teatro foi vendido a Alcino Barros e Luiz França, passando posteriormente às mãos de Juca Barreto e Hermindo Menezes. O local recebeu o nome de “Cinema Rio Branco” emhomenagem ao Barão do Rio Branco. Juca Barreto era conhecido por ficar sentado no local de acesso dos frequentadores, onde era cumprimentado.

Durante sua era dourada, o Cine Theatro Rio Branco contou com a presença de grandes artistas como Procópio Ferreira, Bidu Sayão, Tito Shipa, Renato Vianna, Ítala Fausta, e muitos outros que se apresentaram em seu palco. Além disso, figurava entre outros cinemas do estado, como o Cinema Guarany, o Cinema Rex e o Cinema Palace, sendo este também palco de produções da antiga Hollywood, trazendo filmes das principais produtoras como Fox e Columbia Pictures e grandes atores.

Em 1961, com a morte de Juca Barreto, seu principal incentivador, bem como problemas administrativos, o Cine Teatro que viveu anos de glória e a transição do cinema preto e branco para o colorido através de grandes obras, passou a decair em qualidade e deu lugar à exibição de filmes pornográficos até o seu fim em 2002. Após uma tentativa de tombamento para tentar salvar sua memória e história, o prédio do antigo Cine Theatro Rio Branco transformou-se em ponto comercial, encerrando de maneira melancólica a história de um dos lugares importantes da nossa história cinematográfica.

Texto reproduzido do site: memorialdesergipe com br

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

O Segredo dos Efeitos Especiais de TITANIC


O SEGREDO DOS EFEITOS ESPECIAIS DE TITANIC

Como foi feito o clássico com Leonardo DiCaprio e Kate Winslet.

Canal do YouTube/Painel Nerd

Hoje é dia de conhecer os segredos dos efeitos de um dos maiores filmes de todos os tempos, o clássico Titanic - esse é clássico mesmo. Uma produção que usou todo tipo de truque: miniaturas incrivelmente detalhadas, imensos cenários realistas, mais de uma centena de dublês, um gigantesco tanque de água, computação gráfica inovadora pra época, efeitos de maquiagem… enfim… um verdadeiro show de tudo que a tecnologia e os efeitos práticos podiam oferecer quando o filme foi feito. Quer conhecer todos os detalhes? Então vem comigo nessa viagem.

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Oscar 2024 - Análise dos Indicados, por Waldemar Dalenogare Neto


Comentários sobre os indicados ao Oscar 2024!

00:00 - Introdução
01:15 - Filme internacional

03:23 - Curta animação
04:22 - Curta live action

05:01 - Curta documentário
05:44 - Animação

06:24 - Documentário
07:18 - Efeitos visuais

08:16 - Canção original
09:19 - Trilha

09:47 - Maquiagem e penteado
10:21 - Som

11:00 - Figurino
11:36 - Design de produção

12:23 - Montagem
13:29 - Fotografia

14:10 - Roteiro adaptado
15:55 - Roteiro original

16:52 - Direção
18:08 - Atriz coadjuvante

19:30 - Ator coadjuvante
20:31 - Atriz

22:18 - Ator
23:27 - Filme

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Roberto Sadovski: cinema e o mundo pop dentro do jornalismo cultural

Postado por Cine Set | jun 27, 2016 | Entrevistas

Roberto Sadovski: cinema e o mundo pop dentro do jornalismo cultural

São 22 anos de carreira e nem por isso Roberto Sadovski parece desanimar. Pelo contrário: o jornalista cultural mantém um dos blogs mais acessados do portal de notícias UOL sempre com as principais novidades do mundo pop no cinema e, vez ou outras, divertidos vídeos no Nerdovski.

Sadovski é um velho conhecido do público cinéfilo por ter comandado a SET, a principal revista de cinema já existente no Brasil. O Cine Set aproveitou toda essa bagagem de um dos jornalistas culturais mais admirados do país e fez uma entrevista especial com ele. Confira abaixo toda a conversa:

Cine Set – Como começou a carreira de crítico de cinema? Tinha alguém em que você se inspirava quando começou na profissão? Pensava que duraria tanto tempo escrevendo sobre cinema?

Roberto Sadovski – Eu comecei a trabalhar como jornalista oficialmente em 1994, mas escrevia sobre cinema desde a faculdade (morava em Natal, formado pela UFRN). Consumia muitas revistas e jornais, e acompanhei uma geração inteira ser formada pela SET e pela BIZZ, o que ajudou a desenvolver um estilo mais leve. Acho que sempre soube que escreveria sobre cinema para sempre….

 Cine Set – Você comandou a revista SET por mais de uma década e viveu o auge e declínio dela. Na sua opinião, qual a contribuição da SET para o jornalismo cultural brasileiro? O fechamento da revista era inevitável? O que mais te marcou durante essa etapa da tua vida?

Sadovski – A SET inspirou gerações de jornalistas que enveredaram pela área cultural – inclusive eu. Fico feliz de, hoje, perceber que consegui contribuir com o mínimo que fosse para ajudar muita gente a gostar de cinema, a escrever sobre cinema e a transformar a paixão em profissão. O fechamento da revista tornou-se inevitável não por sua performance como produto, que sempre foi impecável, e sim por movimentos de bastidores quando o título foi para as mãos de empresários pouco envolvidos com o mercado editorial. Tudo nessa etapa marcou minha vida: fazer a revista foi o que me deu disciplina para ser um jornalista mais completo.

Cine Set – Em todas as viagens internacionais pela SET, gostaria quem foi a pessoa mais bacana de entrevistar? E o mais chato? Já pagou mico? 

Sadovski – Muita gente me pergunta isso, mas não sei responder. Cada viagem, cada reportagem, sempre foi uma experiência diferente e super válida. Nunca pintou mico, nunca tive alguém antipático como entrevistado. Acho que tudo depende da condução da coisa. Ou então eu sempre dei muita sorte.

Roberto SadovskiCine Set – Atualmente, você está no UOL com um blog voltado para o cinema pop e tocando bastante nos assuntos nerds. Como analisa esse boom da cultura nerd, especialmente, com as adaptações de HQs nos cinemas? Acha que essa grande quantidade de produções previstas para os próximos anos pode trazer saturação ao mercado ou o público não vai cansar desses projetos?

Sadovski – Acho que é uma evolução natural do cinema como produto. Mas o que é mais bacana é trazer um novo público que posa descobrir o que mais o cinema oferece além da cultura pop e do entretenimento de consumo de massa. O próprio público vai se encarregar de fazer um filtro e separar joio de trigo.

Cine Set – “Batman Vs Superman” trouxe muita lenha na fogueira da polêmica entre público e crítica. Você mesmo foi muito criticado nos comentários da sua análise do filme. O que você acha dessas reclamações? Isso te afeta de alguma maneira? Para você, qual a função de um crítico de cinema?

Sadovski – Não me afeta em absoluto, até porque é só mais um filme, não é nada de tão importante assim.Um crítico pode oferecer um caminho, uma visão de como encarar um filme talvez por um ângulo que o público não perceba. Não acredito em crítica com o objetivo de dizer unicamente se um filme é “bom” ou “ruim”. Não é essa a função da crítica: é expandir o escopo.

Cine Set –  Qual o filme mais marcante da sua vida? E qual foi o último filme que você viu que te impactou?

Sadovski – Impossível apontar um único filme, impossível apontar dez filmes! Sempre que começo a listar, já fico mal por estar deixando coisas incríveis de fora. Pode parecer clichê, mas Guerra Civil de fato me impactou. É cinema, não produto.

CannesCine Set – O Brasil hoje vive uma crise política forte. Qual sua percepção da polêmica envolvendo os artistas nacionais relacionada ao MinC e a Lei Rouanet? Como enxerga o manifesto dos artistas realizado recentemente no festival de Cannes?

Sadovski – Acho que a preservação do MinC é importante, mas também acho que as políticas públicas para a cultura precisam ser revistas com urgência. Sobre o protesto em Cannes, os artistas tem todo o direito de se manifestar. Mas achei fora de tom, e tirou o foco do que realmente é importante: o filme.

Cine Set – Recentemente você fez uma reportagem para UOL falando sobre os fãs “Annie Wilkes” na cultura Pop. Na sua opinião, esta relação ambivalente entre público e autor cada vez mais presente na realidade virtual pode contribuir ou prejudicar no marketing dos produtos, seja no cinema ou nas HQs?

Sadovski – A única forma de prejudicar é se empresas passarem a moldar seus produtos criativos seguindo o lamento de uma minoria ruidosa. Artistas tem de ser livre para criar. Enquanto isso acontecer, fãs barulhentos podem rosnar o que for. Não fará a menor diferença.

Cine Set – Geralmente associam o crítico a ser um colecionador de filmes…o Roberto Sadovski faz parte desta visão? ou você prefere colecionar outras coisas?

Sadovski – Não me coloco fora dessa: sou colecionador de filmes e HQs. Adoro mídia física!

Cine Set – Você esteve no Amazonas Film Festival em 2009. O que lembra do evento e o que achou de Manaus? Você conhece algo da produção cinematográfica realizada no Amazonas ou na Região Norte do Brasil? Se sim, qual a sua opinião?

Sadovski – Gostei muito do evento e da cidade, tive a chance de papear com o John McTiernan e foi bem legal. Honestamente, não conheço a produção cinematográfica da região. Mas seria bacana conhecer!

Texto e imagem reproduzidos do site: www cineset com br 

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Entrevista: Celso Marconi

Publicação compartilhada do site CINEMA ESCRITO de 19.07.2021 

Celso Marconi: “É o artista que cria a arte cinematográfica, e não o enredo do filme”.

Por Luiz Joaquim (Leitura Zen)

– a fotografia acima foi feita em 2009, quando o editor deste CinemaEscrito, Luiz Joaquim (e) entrevistou Celso Marconi por ocasião do lançamento de seu DVD, uma coletânea com seus 22 filmes. Leia aqui. 

Ontem (18), o CinemaEscrito resgatou e publicou uma entrevista feita com o jornalista, crítico de arte, realizador, curador e professor Celso Marconi realizada em abril de 1960 por Fernando Spencer (1927-2014).

Ontem mesmo, propomos a Celso Marconi – prestes a completar 91 anos em agosto próximo – que nos respondesse as mesmas perguntas de 61 anos atrás. Com exceção da pergunta que se refere à televisão (quando substituímos a tecnologia por ‘transmissão por streaming‘) e à pergunta que se refere a cineclubes, todas as outras questões foram mantidas idênticas como formuladas por Spencer em 1960.

Celso continua atento, perspicaz, sagaz e propondo muita boas ideias para aplicar neste nosso louco mundo contemporâneo.

Aproveite.

– – x – –

Entrevista: Celso Marconi

P – Como deve ser encarado o cinema?

R – Para mim o cinema deve ser encarado como uma obra de arte. Cada filme é uma obra de arte, não é apenas um elemento explícito de divertimento ou de comunicação. Cinema não é apenas comunicação. Meu pensamento, hoje, segue esse sentido. O cinema é uma peça fundamental porque a arte é fundamental dentro da estrutura da cultura.

P – Quais os fatos mais importantes ocorridos nesses últimos 20 anos?

R – O mais importante é essa divulgação mundial da tecnologia da comunicação. Acho que é a coisa mais importante que aconteceu. Isso tem dado chance a humanidade de se desenvolver num sentido mais propício para viver. Quer dizer, é muito bom, e têm sido essencial, essa tecnologia, para mudar as pessoas e para mudar o mundo, mudar a forma de comunicação, mudar a maneira como você se apresenta a um outro, como se comunica e como se convive com o outro. E, no caso do cinema, ela é arte mais comunicativa, é a mais ligada ao povo. Antes do cinema, as outras artes tinham dificuldade de se comunicarem com o grande público. Não existia essa coisa de ‘o grande público’. Existia uma público consumidor de arte, mas restrito. O cinema criou essa possibilidade do ‘grande público’ entrar no mundo da arte. Walter Benjamin [1892-1940] é um dos que criou teorias sobre cinema que o valorizou. Ele buscou mostrar que a arte perdeu sua aura de inacessível a partir de tecnologia, e o cinema não se prende a uma originalidade. Por exemplo, quando vejo Meu tio da América [de Alain Resnais, 1980] estou vendo o filme como foi concebido originalmente, mas eu como espectador também crio a minha originalidade para o filme a partir do que a arte cinematográfica possibilita.

P – Quais os elementos necessários para a realização de um bom filme?

R – Uma imagem. Mas o cinema também abarca o som. Agora, na realidade o cinema se desenvolve independente de sua história. É o artista que cria a arte cinematográfica, e não a história. O argumento não é fundamental, ainda que o argumento seja uma das partes que mais deixa o público ligado ao filme. Mas a forma como o filme se desenvolve, sendo essa forma determinada pelo artista, isso é que é o fundamental.

P – Acha que a transmissão de filmes por streaming signifique a morte do Cinema?

R – Eu acho que não. Eu acho que instrumental, essa tecnologia, ajuda. A arte cinematográfica é uma coisa independente. Vamos pensar na pintura. Quando surgiu a fotografia as pessoas falavam que a pintura morreria. Ela continua vivíssima hoje. Assim, a obra de arte cinematográfica, quando ela passa no streaming, ela permanece autentica, independente se é para um público restrito ou não. E isso não significa que ela irá ficar restrita àquele público. O streaming possibilita que, por exemplo, apenas um espectador veja um filme solitariamente, mas eu já vi filme sozinho numa sessão cabine para a imprensa, numa sala de cinema. Isso significava que aquela sessão não era cinema? Dizer que o cinema acabou porque está sendo exibido para uma pessoa está errado. E hoje, cada vez mais, qualquer filme tem a possibilidade de ser visto no mundo inteiro, em qualquer lugar onde podemos chegar com essa comunicação mundial.  

Celso e Joaquim, julho 2021

P – No momento, qual é o melhor cinema?

R – Não tenho capacidade de responder porque não acompanho lançamentos cinematográficos, mas o que a gente nota é que o cinema de Pernambuco é o melhor [risos, muito risos]. São os filmes próximos de mim, e são filmes que a gente vê que o assunto e a forma interessam. O cinema é uma arte muito ligado à sociedade. Cinema é a arte mais social, e é isso que dá a oportunidade, por exemplo, de um filme de Kleber [Mendonça Filho] ir para o mundo todo. Por que Cannes o convida para integrar o júri? Porque o seu cinema tem importância mundial. Você aqui faz o filme para o CINEMA e o filme atinge as pessoas no Japão, da mesma forma que o cara do Japão faz um filme e atinge as pessoas aqui independente do tema. O cinema hoje não tem mais grupos. Nos 1960s o cinema era muito ligado à escolas: o expressionismo alemão, o neorrealismo italiano, depois a Nouvelle vague. Essas escolas não existem mais. Cada um cineasta segue seu caminho. Há muita individualidade. Mesmo no cinema norte-americano conseguimos ver cineastas com produções diversificadas, exceto por aqueles realizadores estritamente industriais, né?

P – Que diz sobre o cinema americano e o europeu?

R – Nos anos 1960 acho que o Europeu era melhor, e era mesmo. O norte-americano é muito vinculado à ideia da indústria, e as outras cinematografias são menos subordinadas a isso. A construção artística parece ser mais livre. É como se as outras cinematografias fossem feitas por artesões, e as de Hollywood, por industriais. Se você gosta dessa arte é o cinema independente que vai te interessar. Mas não quer dizer que na indústria você não encontre filmes maravilhosos.

P – Sobre o cinema nacional acha que poderíamos atingir o nível técnico-artístico de outros países mais adiantados?

R – Nos anos 1960 havia uma dificuldade técnica para a produção nacional, a técnica era muita mais cara. Hoje acho que a tecnologia parece ser menos importante. Hoje acho que a tecnologia é mais possível de ser aproveitada por pessoas independentes. A tecnologia hoje é de boa qualidade e é acessível. Mas, claro que um filme que custa RS 200 milhões tem mais possibilidades que um filme que custa R$ 3 milhões.

P – Cite dez dos mais importantes filmes que já viu.

R – Rocco e seus irmãos;  Deus o e o diabo na terra do sol; Brinquedo proibido; Vidas secas;  Ladroes de bicicleta; Os brutos também amam; O último tango em Paris; Matar ou morrer; São Bernardo; Bye Bye Brasil.  

P – Valeria a pena criar um novo cineclube no Recife em 2021?

R – Não sei. Já existem cineclubes pela internet, não existe? Acho um cineclube no modelo antigo não valeria a pena. Hoje, eu acho que o caminho é, por exemplo, o que o Sesc tem feito, o ‘Cinema em Casa’. Pode-se criar debates, que é sempre algo interessante. Talvez um cineclube pudesse funcionar com a programação de um filme na internet, de modo que cada um visse o filme, em seu tempo, e se agendaria um debate, por grupos de debate, sobre determinados assuntos. Seria um cineclube, só que num formato atual.  

Texto e imagem reproduzidos do site: cinemaescrito com

Celso Marconi faz parte da formação de quem ama o cinema

Post compartilhado do Facebook/Kleber Mendonça Filho, de 3 de janeiro de 2024

Celso Marconi faz parte da formação de quem ama o cinema. Escreveu durante anos para o Jornal do Commercio, no Recife, para onde mais tarde eu escrevi, na mesma função dele. O Jornal do Commercio nos anos 80 era mal impresso e sujava os dedos de tinta. Mas meu pai era fiel leitor e eu gostava de ler Celso Marconi, que no cenário nacional de opiniões sobre filmes, as dele eram as de maior ruptura, as mais distantes do consenso, muitas que eu não entendi ou concordava, outras que eu totalmente sincronizava. Por default, ele não gostava (ou questionava de forma constante) o cinema americano e defendia o brasileiro, era comunista retinto, e esse caldo e tempero era realmente único em sabor e em ângulo, gostando ou não. E o humor ácido, na escrita ou ao vivo. Celso era cronista cético, o melhor tipo, e sua visão de mundo também foi expressa como programador de cinema, no Cinema Coliseu em Casa Amarela (hoje um pavoroso Moura Dubeux), no Cinema do Parque, no Cinema Ribeira, nos anos 90, para onde levou Seu Alexandre Moura, que havia perdido o emprego de projecionista com o fechamento do Art Palácio em 1992. Quantas vidas são impactadas ou moldadas por alguém como Celso Marconi, que escreveu e fez escolhas a partir de artefatos de cultura? 

Como resulta uma cidade a partir da soma de gente assim? Numa nota pessoal Celso também foi quem me convidou para ir pela primeira vez a um festival de cultura (o Festival de Inverno de Garanhuns) e a um festival de cinema, a Jornada de Cinema da Bahia (“por um mundo melhor”), depois de falar para seu amigo Guido Araújo sobre Casa de Imagem, documentário de fim de curso de jornalismo que fiz co realizado por Elissama Cantalice. Aos poucos, as pessoas vão fazendo parte de uma trajetória. Hoje, já devo ter ido a 300 festivais em 30 países, mas o primeiro com um filme meu, foi por causa de Celso Marconi. Um grande abraço para a família e especialmente para Trudy Keusen, uma grande presença na vida de Celso e nos trabalhos que fizeram juntos. 

Essas fotos de Celso com camisa amarela foram tiradas em agosto 2023, ano passado. Eu queria que ele tivesse ido ver Retratos Fantasmas no Parque. Ele viu em casa, com Trudy ajudando a preencher as lacunas do que ele já não conseguia enxergar.

Texto e imagem reprodzidos do Facebook/Kleber Mendonça Filho.