Publicado originalmente no site de A Tribuna Cultural, em 29/02/2012.
Momento de Saudade - Benjamin, uma vida voltada para o cinema de Estância/SE.
Benjamin de Souza Alves nasceu em Vila Cristina, hoje
Cristinápolis/Se, no dia 29 de setembro de 1923 (no mesmo ano da fundação do
Cine-Teatro São João). Com cinco anos de idade veio com seus pais residir em
Estância, onde aos seis anos iniciou seus estudos no Grupo Escolar ‘Gumersindo
Bessa’.
Quando completou oito anos de idade, foi estudar na escola
da professora Ofenísia Soares, que ficava na Rua do Pompeu (caminho do Porto),
e aos nove anos para ajudar a família, tornou-se vendedor de jornais e revistas,
tais como: Carioca, O Molho, O Imperial, etc. Logo depois passou a trabalhar
com Elias Gringo, como era conhecido o comerciante mascate, que andava pelas
ruas, batendo um metro de madeira, divido ao meio por uma dobradiça, sempre
acompanhado de um senhor que carregava um baú na cabeça, cheio de tecidos e
bijuterias.
Com a idade de onze anos, conseguiu um emprego com o então
Lauro Santana, proprietário do jornal “Voz do Povo”, como aprendiz de Dionísio.
Em 1935, deixou “Voz do Povo”, para trabalhar na loja “Flor
da Síria”, pertencente ao árabe Abdon Uehbe, casa especializadas e, fazendas e
bijuterias, localizada na rua Capitão Salomão.
No Cinema.
Aos 13 anos, apaixonou-se pelas imagens cinematográficas ao
ver na tela do cinema do cinema “São João” o filme ‘Tarzan, o filho das
selvas’, foi a primeira vez que assistira um filme. Aproximou-se do funcionário
do cinema conhecido por João Barriga, para ver a possibilidade de varrer a casa
de diversões nos dias de domingo e com isso ter acesso às matinês,
gratuitamente, o que de imediato conseguiu.
Benjamin foi convidado pelo proprietário Diógenes Freire
Costa para ser bilheteiro do cinema nas sessões da noite. Durante o dia,
permaneceu no seu atual emprego com o árabe Uehbe.
Com o passar do tempo despediu-se da loja ‘Flor da Síria’.
Daí passou a trabalhar com Díogenes em seu armazém de secos e molhados durante
o dia, e à noite, como bilheteiro do cinema.
No cinema, durante meses após a prestação de contas das
soirês, ele subia à cabine para aprender os segredos das projeções. Treinava
artesanalmente com ardor na colagem e rebobinamento das partes dos filmes. Quem
ensinou essa arte a Benjamin foi um senhor por nome de João de Deus.
O batismo de Benjamin, como operador cinematográfico
aconteceu numa certa noite de domingo de 1937, motivado pela falta do operador
João de Deus ao serviço.
Três anos mais tarde, em 1940, foi comprado outro aparelho,
e Benjamin passou a ser a operador cinematográfico definitivo. Aos 17 anos de
idade estava oficializada a sua profissão, da qual até hoje ele se orgulha.
Benjamin deu seu adeus Cine-Teatro ‘São João’ no dia 20 de
agosto de 1980, dando sua última projeção com o filme “Os Discípulos de Shao
Lin”. No dia seguinte, o, o cinema foi fechado definitivamente pelos irmãos Renato
e Nivaldo Silva Carvalho. Foram 43 anos de trabalho e carinho dedicados a este
cinema. Um triste fim para este local de saudade, onde fomos felizes em
empolgamento proporcionados por essa figura humana notável.
Benjamin continuou trabalhando no depósito da empresa dos
irmãos Silva que foram seus últimos patrões.
Renato e Nivaldo Silva também compraram o Cinema Guarani (o
último de Estância), e mantiveram o velho operador durante o dia trabalhando no
depósito e a noite no cinema, como gerente e porteiro.
Benjamin de Souza Alves atualmente vive com um baixo salário
como funcionário da Prefeitura Municipal de Estância.
Este homem de sete instrumentos que fazia de tudo no
Cine-Teatro ‘São João’ e que com suas mãos bem treinadas nos deu a alegria
daqueles momentos sedutores do fluir dos fotogramas nas matinês, matinais e
soirês jamais será esquecido por todos aqueles que um dia assistiram um filme
no Cine-Teatro “São João” projetado por este manipulador de emoções.
Redação A Tribuna Cultural.com.br
Texto e imagem reproduzidos do site: atribunacultural.com.br
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